O pecuarista de corte, independente da função que executa, seja cria, recria, engorda ou produção de genética tem como sua essência a produção de carne, podendo ser traduzida na forma de carcaça. Portanto a atividade tem seu desfecho no momento em que o animal é abatido, e é justamente neste desfecho que há uma grande polêmica que causa muita discussão e debate entre produtores e frigoríficos. Portanto compilamos do acompanhamento técnico de abate de mais de 11.553 cabeças abatidas de cinco pecuaristas diferentes e assim, tentaremos esclarecer alguns pontos de como proceder para uma melhoria do rendimento de carcaça.
Pecuaristas que produzem carcaça devem se atentar muito a qualidade e de que maneira o rendimento de carcaça pode interferir nos parâmetros produtivos da propriedade. Vamos falar então quais são os fatores que podem o influenciar. Primeiro precisamos entender o que é uma carcaça. A carcaça corresponde ao animal abatido, sangrado, esfolado, eviscerado, desprovido de cabeça, patas, rabada, órgãos genitais externos, gordura perirenal e inguinal, ferida de sangria, medula espinhal e diafragma.
Entendendo isso, o produtor que vende seus animais para o frigorífico terá que se preocupar em como melhorar a eficiência da deposição de carne e da diminuição do conteúdo TGI. Essa relação é expressa em porcentagem e se torna um índice de muita importância para a produtividade da fazenda.
Imagem 1. Como calcular o rendimento de carcaça.
Como podemos ver na imagem acima, o rendimento de carcaça é a relação entre o peso da carcaça produzida (frigorífico) e o peso vivo do animal na fazenda, expresso na forma de porcentagem.
Separamos alguns fatores que podem afetar diretamente o rendimento de carcaça: Jejum, Categoria Animal, Dieta e Raça/Genética.
1. Jejum
Um fator importante do manejo pré-embarque. O tempo de jejum antes da pesagem do animal vivo interfere diretamente no rendimento de carcaça, porém essa modificação se dá principalmente devido ao maior ou menor peso do animal vivo (quanto maior o tempo de jejum, menor o peso do animal vivo devido ao esvaziamento do trato gastrointestinal). Realizamos na tabela a seguir três cenários para ilustrar como o jejum pode modificar o rendimento de carcaça.
Tabela 1. Influencia das restrições hídricas e alimentares no rendimento de Carcaça
Cenário | Restrição | Peso Frigorífico | Perda PV (%) | Perda (Kg) | Peso na Fazenda (Kg) | Rendimento de Carcaça (%) |
---|---|---|---|---|---|---|
1 | Alimentar | 291,6 | 1 | 5,4 | 534,6 | 54,55 |
2 | Hídrica/Alimentar | 291,6 | 3 | 16,2 | 523,8 | 55,67 |
3 | Sem restrição | 291,6 | 0 | 0 | 540 | 54,00 |
Nesta tabela fica claro que o rendimento de carcaça pode ser manipulado através do jejum estabelecido na propriedade, portanto ele só se torna um parâmetro totalmente mensurável a partir do momento em que se mantém estabelecido dentro da propriedade, ou seja, quando o produtor não modifica o seu jejum. Assim o parâmetro de rendimento de carcaça pode ser facilmente mensurado para novas tomadas de decisão.
Podemos perceber na tabela acima que os animais que são submetidos a uma restrição alimentar mais rigorosa (Cenário 2) possuem maior rendimento de carcaça, no entanto, o peso da carcaça não sofre alteração. Lembrando que nos cenários em que houve jejum, este não ultrapassou de 12 horas.
O jejum pode se tornar prejudicial para o peso da carcaça se for maior que 24 horas para dieta hídrica e 72 horas da dieta sólida, portanto, é importante sempre observar no frigorífico se os animais possuem acesso e disponibilidade de água no curral.
Comida: 72 horas
Água: 24 horas
2. Categoria Animal
Dentro da categoria animal podemos classificar como Machos Inteiros (MI), Machos Castrados (MC), Novilhas e Vacas. Dentro destas categorias os maiores índices de rendimento de carcaça são observados nos machos inteiros, seguidos dos castrados, novilhas e vacas.
Para melhor entendimento de como a categoria do animal pode interferir no rendimento de carcaça separamos alguns resultados de diferentes categorias de animais confinados submetidos ao mesmo tratamento. Lembrando que são animais confinados que antes de serem embarcados são submetidos ao jejum alimentar (retira-se o último trato do dia anterior ao embarque).
Tabela 2. Influência da Categoria sobre o rendimento de Carcaça
Categoria | Rendimento de Carcaça (%) |
---|---|
Machos inteiros | 55,85 |
Machos Castrados | 54,68 |
Novilhas e Vacas | 51,94 |
3. Dieta fornecida
A dieta afeta também diretamente o rendimento de carcaça, tendo em vista que o desenvolvimento do trato gastrointestinal vai variar de acordo com a suplementação fornecida aos animais. Por exemplo, dietas com maior proporção de alimentos volumosos (principalmente a pasto) terão um maior desenvolvimento do rúmen. Considera-se então que quanto maior a participação de grãos na dieta, menor é o peso e tamanho do rúmen, por isso que os animais confinados tendem a ter maior rendimento de carcaça. Então, quanto maior a suplementação dos animais á base de concentrado e aditivo, maior o rendimento de carcaça.
Separamos na tabela 3 alguns de nossos resultados para demonstração do rendimento de carcaça, lembrando que o peso de embarque é padronizado, e todos os animais são da raça nelore:
Tabela 3 - Influencia da Dieta sobre o rendimento de Carcaça de animais nelore em Jejum
Categoria | Dieta | Rendimento de Carcaça (%) |
---|---|---|
Macho Inteiro | Confinado | 55,30 |
Macho Inteiro | 0,5% PV | 54,00 |
Macho Inteiro | 0,2 PV | 53,50 |
Macho Inteiro | Sal Mineral (Pasto) | 53,00 |
Macho Castrado | Confinado | 54,30 |
Macho Castrado | 0,5% PV | 53,50 |
Macho Castrado | 0,2 PV | 52,50 |
Macho Castrado | Sal Mineral (Pasto) | 52,00 |
Novilhas | Confinado | 52,50 |
Novilhas | 0,5% PV | 51,50 |
Novilhas | 0,2 PV | 51,00 |
Novilhas | Sal Mineral (Pasto) | 50,50 |
4. Raça/Genética
A definição da genética e do programa de seleção utilizado na propriedade é extremamente importante para que a partir da definição da estratégia utilizada do manejo alimentar o produtor saiba escolher exatamente a raça e a linhagem a ser utilizada na propriedade. Quando se utiliza raças de porte grande maior será o peso ao acabamento. Veja esta análise que fizemos em uma propriedade verificando 1421 animais, sendo 441 animais de raça ½ sangue Angus x Nelore e 980 animais da raça Nelore. Todos os animais estavam confinados e receberam o mesmo manejo alimentar, na tabela 4 trazemos algumas informações importantes:
Tabela 4. Influência da raça no peso de embarque e rendimento de carcaça
Lote | Raça | Peso embarque (Kg) | Rendimento de Carcaça | Peso Carcaça (Kg) |
---|---|---|---|---|
1 | Angus | 554 | 56,0% | 310,2 |
2 | Nelore | 476 | 55,1% | 262,3 |
Veja a importância do peso de acabamento dos animais (peso de embarque) para as diferentes raças, enquanto os animais da raça nelore estavam prontos com 476 Kg, os da raça angus, por exigirem maior peso ao acabamento foram embarcados com 554 Kg. Na tabela também podemos observar um maior rendimento de carcaça nos animais Angus.
No gráfico abaixo compilamos as informações de acabamento de carcaça, portanto, podemos perceber que os animais mestiços ½ sangue angus tiveram maior acabamento de carcaça em relação aos animais da raça Nelore.
Gráfico 1. Comparativo do acabamento de carcaça Nelore x Angus
O produtor deve estar atento a todos os aspectos que interferem o rendimento de carcaça para que este parâmetro seja utilizado eficientemente. Se o produtor não conhece o rendimento de carcaça de seus animais a tomada de decisão ficará mais difícil e poderá implicar certamente em prejuízos na rentabilidade das carcaças de seus animais.
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